quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Separações -Domingos Oliveira

O que mais me encanta no filme são os poemas... Lindos!






O imbróglio de "Separações" segue, de modo geral, o esquema de "Quadrilha" (o célebre poema de Drummond): Fulano amava Sicrana, que amava Beltrano etc. Ou melhor: todos amavam e eram amados, só que em momentos diferentes, num doloroso e cômico descompasso.
Impossível resumir esses desencontros. Basta dizer que no centro de tudo está o escritor cinquentão Cabral (interpretado pelo próprio diretor, Domingos Oliveira), que propõe "um tempo" à companheira 20 anos mais jovem, Glorinha (Priscilla Rozenbaum), e a vê apaixonar-se pelo arquiteto Diogo (Fábio Junqueira).
Há ainda outros personagens de várias gerações, perfazendo uma tapeçaria complexa que lembra os filmes "corais" de Woody Allen, como "Hannah e Suas Irmãs".
Também por seu humor amargo e auto-irônico, repleto de referências intelectuais, a aproximação de Domingos Oliveira a Woody Allen é inevitável. Mas tanto em "Amores", seu filme anterior, como em "Separações", o cineasta brasileiro mostra suas afinidades com outros diretores, como Truffaut e Cassavettes -tudo isso com um inconfundível sotaque carioca.
Num gênero (o da comédia dramática amorosa) dominado pela superficialidade e pelo infantilismo, Oliveira se destaca como uma ave rara desde o clássico "Todas as Mulheres do Mundo" (1967).
Primeiro, porque seus roteiros são adultos, inventivos, cheios de tensão erótica e dramática. Segundo, porque sua direção é ao mesmo tempo leve e consistente.
Oliveira domina como poucos seu instrumental. Sabe o momento de usar uma câmera subjetiva, um plano sequência ou uma montagem descontínua. A abordagem escolhida é a que conduz ao maior rendimento cômico ou dramático de cada cena.
Um bom exemplo é a sequência em que Cabral, bêbado feito um gambá, interpela o amigo que conquistou sua mulher. Uma câmera em movimento trôpego e contínuo dá conta do desespero tragicômico de Cabral e da perplexidade do oponente e das testemunhas.
A "mise-en-scène" de Oliveira assenta-se em grande parte no talento de seus atores, vários deles membros de sua equipe habitual (como os excelentes Ricardo Kosovski e Priscilla Rozenbaum).
Se há uma nota destoante em "Separações", é a interpretação das atrizes mais jovens (Maria Ribeiro e Nanda Rocha), que estão longe do patamar de entrosamento e naturalidade do elenco mais experiente.
Mas é pouco para empanar o brilho de um filme tão prazeroso.